FRATELLI TUTTI

Queridos paroquianos e amigos, chegamos ao mês de novembro inspirados pelos ensinamentos da Carta Encíclica Fratelli Tutti do Santo Padre, o Papa Francisco, publicada em 03 de outubro junto ao túmulo de São Francisco de Assis, cujo tema é a fraternidade e a amizade social. Como disse o próprio papa, é uma encíclica social que faz convergir os ensinamentos do seu pontificado.

Em suas Admoestações, São Francisco deixou como fonte o caminho da fraternidade. Há oito séculos, um jovem na cidade medieval de Assis, descobriu que a glória do homem não está nos prazeres mundanos, nas glórias vindas da guerra ou no acúmulo dos bens. Ferido e questionado existencialmente, o filho de Pietro Bernardone, renunciou e despiu-se de tudo para assumir na entrega a Cristo o caminho da fraternidade, o jugo do Evangelho de Cristo.

“Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), sentenciou Jesus aos seus primeiros discípulos e a nós hoje. Essa afirmação de fé realça nossa dignidade humana e a necessidade de aprender a contemplar tudo com o equilíbrio da fé e profundo senso de humanidade. Diante da cultura do desencontro e do descarte, o Evangelho nos interpela a sermos protagonistas de uma nova realidade.

A Doutrina Social da Igreja ainda é uma grande desconhecida para muitos que professam a fé católica. A nossa fé é rica, mas muitos são vítimas da falta de uma formação profunda para a vida cristã, outros estão acostumados a viver o cristianismo da superfície, por fim, muitos manipulam a vida com Deus mundanizando a espiritualidade e o agir cristão.

As encíclicas sociais, presentes no magistério dos papas desde 1891, com a publicação da Rerum Novarum do Papa Leão XIII, sofrem com a dificuldade de recepção dos católicos por causa de um desequilíbrio histórico entre o poder temporal e o poder espiritual. As polarizações instrumentalizam a prática do bem, a opção pelos pobres, a defesa incondicional dos Direitos Humanos. Mais uma vez vemos a sociedade brasileira dividida e a vida humana banalizada. Usando jargões, muitos “católicos” se acham no direito de julgar a bel prazer a doutrina da Igreja e, inclusive, julgar a orientação do Papa quando o assunto é “terreno”. Todavia, a nova encíclica deve ser assumida com coerência para que possamos evangelizar a humanidade hoje.

O Papa Francisco, inspirado pelo exemplo do Patriarca Bartolomeu, publicou a carta encíclica Laudato Si, sobre o cuidado com a casa comum. Francisco de Assis tem inspirado ao papa que tomou sobre si o seu nome para trazer à tona as urgências da criação que geme aguardando a manifestação gloriosa do Senhor. Nos ensinamentos, sempre o Evangelho em diálogo, a necessidade de entender que tudo está interligado. Daí brotou a postura decidida de olhar o mundo como nossa única casa e a nossa responsabilidade de cuidar e harmonizar toda a criação. Agora, inspirado pelo grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, o papa deseja contribuir com sua reflexão para pensarmos juntos sobre a realidade do mundo que deve superar essa pandemia através da fraternidade e promoção integral da vida humana.

Nos oito capítulos da encíclica, o papa deixa ressoar forte os ensinamentos de Jesus, de seus predecessores, das conferências episcopais e de humanistas sobre a necessária conversão que a humanidade inteira deve abraçar: superar a intolerância pelo diálogo, resgatar a vida humana diante do fracasso dos modelos econômicos, superar a intolerância promovendo a formação humana para a solidariedade e a paz, fazer das religiões defensoras da vida e promotoras da liberdade. A Fratelli Tutti indica um verdadeiro caminho de amor fraterno, onde todos somos irmãos porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Um texto profundo, uma grande mensagem que, certamente, será atacada pelos amigos do lucro, do poder egoísta e das armas.

Convido a todos para que façam uma leitura atenta da nova encíclica que norteará a missão da Igreja nas próximas décadas e que se torna um marco para a Igreja Católica no século XXI. Ao mesmo tempo, intensifiquemos nossas orações pelo Papa Francisco, para que permaneça firme na sua missão de Sucessor de Pedro e Servo dos servos de Deus.

Um forte abraço e minha unidade,

Pe. Felipe Cosme Damião Sobrinho, pároco